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stenella_longirostris

by Thelmo Cristovam

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Capim Açu 49:22
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Farol 01:06:13
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about

O trabalho que Thelmo Cristovam leva à Fernando de Noronha desafia fronteiras simbólicas entre a arte a ciência, sintetizando-as enquanto método de mapeamento sonoro do arquipélago, em uma tentativa continua de entender o mundo e de inventar ferramentas para pesquisa-lo, descreve-lo em forma de arte e consequentemente, preserva-lo.

Essa viagem de pesquisa onde eu o acompanhei, em outubro de 2018, foi a continuação de um trabalho que Thelmo faz há décadas, no Nordeste do Brasil e na Amazônia, mapeando paisagens sonoras de lugares aonde pode-se permanecer sem a intercessão de ruídos humanos ou sinais sonoros não provenientes de fenômenos naturais. Tanto para arte quanto para a ciência e finalmente para a política, é de imensa importância o registro desses ambientes, que tendem a desaparecer à medida do ganho das chamadas modernidades. Essas gravações garantem, em alguma perspectiva, que esse patrimônio natural seja preservado para o futuro.

Dessa vez, o que nos leva ao arquipélago são os ruídos sonoros subaquáticos, especialmente dos cetáceos que povoam esse ambiente marítimo tão rico. Esse trabalho se dá em colaboração com a ONG Golfinho Rotador, que desde 1990, junto com o ICMBio, trabalha em pesquisa e preservação dessa espécie e da sustentabilidade do seu habitat.

A escuta subaquática é complexa e para ser melhor compreendida, é preciso explicitar suas camadas, crivos e filtros – físicos e psico-políticos – tarefa que, como artista, Thelmo dedica-se de forma laboriosa e circunspecta. Mais ainda, a procura do entendimento de uma escuta não-humana passa por uma série de compreensões e métodos, aonde o conhecimento cientifico e a estética se imbricam de forma para que possa haver um modo de tradução a esse entendimento. As longas horas de conversa a bordo do barco de pesquisa do Golfinho Rotador e a procura pelos mesmos revolviam sobre essas compreensões.

Embarcávamos antes do amanhecer, munidos de diferentes hidrofones e gravadores que Thelmo se dedica a conhecer como uma extensão do próprio corpo, entendendo suas habilidades, limitações e processos. No barco, Thelmo explicava sobre o biociclo das paisagens sonoras e como o amanhecer e entardecer são os momentos de maior movimento entre a fauna na maioria dos habitats, essa troca de turnos. Também se conversava sobre a escuta e sons emitidos por esses seres também mamíferos e não tão distantes, que emitem sons melódicos como assobios, sons pulsados e complexos e os clicks da ecolocalização. Há um grande encanto no processo de escuta-los e na impossibilidade de decifra-los. Conversávamos sobre o “melão”, uma massa de tecido adiposo encontrado na testa dos cetáceos dentados, onde centra-se as vocalizações do animal, atuando como uma “lente” para os sons e suas navegações. Esse órgão, não totalmente compreendido, é certamente um componente importante da bioacústica desses animais e seu ambiente. Filtros naturais e mecânicos moldavam o conhecimento e as experiência sensoriais de todas as espécies presentes.

Todos escutavam atentos, sabendo que esses ambientes são profundamente perturbados pela presença humana. Os cientistas nos contavam o quanto o padrão de deslocamento dos golfinhos rotadores tinha se alteado diante do aumento de embarcações na ilha, enquanto tínhamos em mente captar justamente a dinâmica entre a chegada dos golfinhos e das embarcações.

Houve um momento e que todos se emocionaram. Eram os sons longínquos de uma baleia jubarte, captados por um hidrofone pouco menos de quinze metros abaixo da superfície e reproduzido para artistas e cientistas por fones de ouvido. Fazíamos fila para ouvi-la. Nenhum sinal visual, somente uma serenata melancólica e um tanto distante de um animal solitário. Não era a época das jubartes em Fernando de Noronha. Pensei que não deveria ser nada fora do normal para cientistas que trabalham na ilha e que estariam habituados com tais animais, mas me enganava. Aquele momento de escuta carregava um entusiasmo sublime, um momento extraordinário mesmo para aqueles que dedicam à essa vida marítima, acostumados com sua presença e imensidão. Não é todo dia que ostenta o encontro da sensibilidade de um artista dedicado a gravações de campo, dominando a captura de sonoridades singulares e assim fazendo arte com os ruídos do mundo e a potência dos autores do conhecimento científico, que sabem os caminhos de acesso e indicam os transcorreres. Um dia em que esses se encontram com os sons presentes de uma baleia jubarte.

Já em terra, Thelmo mostra suas gravações à um grupo de estudantes do ensino fundamental, nativos da ilha, que atuam em um grupo de conservação junto ao Golfinho Rotador. Thelmo fala sobre seu trabalho e enche os olhos de Amanda, menina nascida numa ilha que sonha em ser astronauta. Ela, que ama matemática e arte, contava que acreditava que somente poderia trabalhar com matemática e ter arte com um passatempo. Thelmo conta da sua formação como matemático e consolidação como artista e mostra os entrelaços desses andamentos e que não é tão diferente do caminho às estrelas. Thelmo fala de arte sonora e conta que há mais de quarenta anos sons de baleias foram mandados ao espaço com o Disco de Ouro da Voyager, e que hoje esses sons já estão além do sistema solar. A escuta é atenta. Um mundo se expande.

Essas gravações de semanas embarcados ouvindo todas as dinâmicas possíveis de ruídos dos golfinhos rotadores viriam a ser material coletado em forma dados para o mestrado da uma das biólogas do Golfinho Rotador. Para Thelmo, são seu instrumento e matéria prima para a arte que ele compõe com os sons do mundo. A ciência procura nos trazer um entendimento da experiência universal, enquanto a arte se encontra em um entendimento universal de experiência pessoal. São dois avatares para a criatividade humana e manifestações de uma busca de entender o desconhecido, tão fundamental em um momento em que precisamos inventar um novo mundo para todas as espécies, e que precisamos “adiar o fim do mundo “, como diz Krenak.

Ser criativo quer dizer conectar e ordenar complexidades. Politica – a composição progressiva de um mundo em comum – não pode ser imaginada sem a ciência, isso é de fácil entendimento. Mas a política também necessita da arte para nos acarretar a sensibilidade para absorver todos os conhecimentos que os cientistas nos trazem.


Beatriz Arcoverde

credits

released June 30, 2021

Projeto desenvolvido com recursos da Lei Aldir Blanc / Edital Criação, Fruição & Difusão – LAB PE

Gravado por Thelmo Cristovam no Arquipélago de Fernando de Noronha. Outubro de 2018

Concepção, construção & desenvolvimento por Thelmo Cristovam, 2021.

Editado, mixado e masterizado por Thelmo Cristovam no v(g)eme móvel. Olinda, Pernambuco. Janeiro a Junho 2021.

Produção e texto critico: Beatriz Arcoverde

Agradeço a Juliana Ferreira

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Recorded by Thelmo Cristovam in the Fernando de Noronha Archipelago. October 2018

Conception, construction & development by Thelmo Cristovam, 2021.

Edited, mixed & mastered by Thelmo Cristovam at the mobile v(g)eme. Olinda, Pernambuco. January to June 2021.

Production/text: Beatriz Arcoverde

Thanks to Juliana Ferreira

Project developed with resources of the Lei Aldir Blanc / LAB PE

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(english bellow, click to more..)

Concepção, criação & desenvolvimento de composições em gravações de campo, tomadas no Arquipélago de Fernando de Noronha em outubro de 2018, com foco em gravações subaquáticas e com particular interesse em capturar os sons emitidos pelos golfinhos que habitam a região.

Editado a partir de um conjunto de mais de cem horas de gravação, em parte devido aos múltiplos canais utilizados em campo, o presente trabalho agora se apresenta em um conjunto de seis composições, cada uma focada em um diferente aspecto da pesquisa em campo, totalizando quatro horas e vinte e sete minutos de duração nesse recorte alcançado em 2021. Ainda temos material para continuar.

Esse projeto faz parte do Mapeamento Sonoro do Arquipélago de Fernando de Noronha, que por sua vez faz parte de outro projeto mais amplo, o Mapeamento Sonoro do estado de Pernambuco, que vem sendo desenvolvido desde o começo dos anos 2000.

Você encontra mais nos links a seguir:

thelmocristovam.bandcamp.com/album/mspe-fernando-de-noronha
thelmocristovam.bandcamp.com/album/mspe-mapeamento-sonoro-de-pernambuco

A continuação dessa pesquisa visa construir, ao longo dos anos, um contínuo mapa sonoro do estado de Pernambuco. Realizada anteriormente nas regiões metropolitana de Recife, zona da mata norte e sul e sertão de Pernambuco (Vale do Catimbau), desde o começo dos anos 2000, o presente recorte se interessa pelas diferenças sonoras insulares e suba aquáticas em relação a urbe e ao sertão e seus biomas característicos, dando continuidade as pesquisas e gravações de campo iniciadas em 2011 no arquipélago.

Projeto desenvolvido com recursos da Lei Aldir Blanc / Edital Criação, Fruição & Difusão – LAB PE

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Conception, creation & development of field recordings based compositions.

Recordings taken in the Fernando de Noronha Archipelago in October 2018, with a focus on underwater recordings and with a particular interest in capturing the sounds emitted by the dolphins inhabiting the region.

Edited from a set of over one hundred hours of recordings, in part due to the multiple channels used in the field recordings, the present work now presents itself in a set of six compositions, each focused on a different aspect of the field research, totaling four hours and twenty-seven minutes of duration in this cutoff reached in 2021. We still have material to continue.

This project is part of the Sound Mapping of the Fernando de Noronha Archipelago, which in turn is part of a larger project, the Sound Mapping of the State of Pernambuco, which has been under development since the early 2000s.

You can find more on the following links:

thelmocristovam.bandcamp.com/album/mspe-fernando-de-noronha
thelmocristovam.bandcamp.com/album/mspe-mapeamento-sonoro-de-pernambuco

The continuation of this research aims to build, over the years, a continuous sound mapping of the state of Pernambuco. Conducted previously in the metropolitan regions of Recife, north and south forest zone and hinterland of Pernambuco (Vale do Catimbau), since the early 2000s, the current cut is interested in the differences in sound insular and sub-aquatic in relation to the city and the hinterland and its characteristic biomes, continuing the research and field recordings started in 2011 in the archipelago.

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Thelmo Cristovam Pernambuco, Brazil

composer | improviser | sound artist

c melody saxophone | valve trombone | pocket trumpet | flute | field recordings | radio | electronics | laptop | feedback | plunderphonics | glitch | acoustic guitar | turntables | tapes

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